Com a chegada de mais um final de ano – mais uma lista dos melhores livros de 2024 entre os cerca de 40 livros lidos durante estes 366 dias! Mais um wrapped, mais um compilado do StoryGraph, Goodreads, Fable, etc. São tantos, que já perdi a conta!
Uma vez mais, depois de não conseguir seleccionar apenas 10 livros, deixarei aqui uma lista dos 15 melhores livros de 2024 – as 15 leituras favoritas deste ano que tal como nos livros favoritos de 2023 e 2022, inclui alguns autores recorrentes e outros que têm potencial para ser novos autores favoritos!
Assim sendo, e por ordem de leitura ao longo do ano de 2024, aqui ficam os melhores livros de 2024.

Os Melhores Livros de 2024:
1º O Nome que a Cidade Esqueceu, João Tordo
Outro livro de João Tordo, apesar de não ter sido o único que li do mesmo ao longo de 2024. O Nome que a Cidade Esqueceu foi-me oferecido pela minha mãe no Natal de 2023 e conta a história de Natasha e o futuro encontro com George B em Nova York. Um “encontro” sobre uma lista telefónica, a busca de um nome perdido e a reconstrução da vida de ambos.
O esquecimento é uma coisa bizarra, não achas? Apaga quase tudo, mas deixa uns resquícios.”
2º In Memoriam, Alice Winn
In Memoriam conta a história de dois jovens ingleses durante a Primeira Guerra Mundial – Gaunt e Ellwood. É um livro bonito pela sua prosa e ao mesmo tempo triste, no relato da vida nas trincheiras da Bélgica e França durante o conflito. O livro é o reflexo da estrutura de classes da sociedade inglesa.
É uma história sobre a esperança de sobreviver, de amar, de reencontrar.
You’ll write more poems. They are not lost. You are the poetry.
Tive ainda o prazer de conhecer Alice Winn na apresentação do livro em Brighton o que tornou a história ainda mais interessante depois de perceber o método e a pesquisa envolvida para escrever este romance.

3º Before The Queen Falls Asleep, Huzama Habayeb
Before The Queen Falls Asleep é a história que percorre décadas da vida de uma palestiniana – Jihad – no pós-ocupação Israelita. Uma história de ficção que é o relato e a vivência de muitas pessoas deslocadas da sua terra natal. E neste caso, não é diferente. A Jihad cabe assumir as responsabilidades da família que esperava que ela fosse um rapaz.
Before The Queen Falls Asleep é uma ode à Palestina.

4º Um Detalhe Menor, Adania Shibli
Durante o Verão de 1949, soldados israelitas capturam, raptam, violam e matam uma jovem palestiniana. Um Detalhe Menor é a história de uma outra jovem palestiniana, muitas décadas depois, obcecada em descobrir o que realmente aconteceu naquele Verão de 1949. O reflexo de que nada mudou, passadas mais de 7 décadas.

5º Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch, Aleksandr Soljenítsin
Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch, é o relato não apenas de um dia mas da vida de muitos Soviéticos nos Gulag Soviéticos. Uma leitura obrigatória para se entender o que era a vida nos campos de trabalho dos prisioneiros políticos da União Soviética. É um relato muito duro da fome, trabalhos forçados e do desprezo sobre a vida humana.
Infelizmente, depois de ter lido o livro, e agora enquanto escrevo este texto, associo aos relatos que nos têm chegado das prisões na Síria depois da queda do regime de Bashar al-Assad. Relatos descritivos e repugnantes como este aqui no NYTimes.

6º Filhos da Chuva, Álvaro Curia
Filhos da Chuva é a história de Domínio – uma terra onde a chuva não dá tréguas. Uma história abundante em personangens intrigantes e com ligações nem sempre tão óbvias.
Não sabia que os corações podem ter bocas que choram!

7º Materna Doçura, Possidónio Cachapa
Materna Doçura é a história de Sacha na busca da sua “mãe” depois de perder a mesma. Passada entre Lisboa e França é recheada de partes inusitadas e muita irreverência enquanto aborda assusuntos sensíveis e problemáticos.
A escrita, que desconhecia totalmente, tem algo de Afonso Cruz (que me agradou muito!) na mistura de diferentes tópicos e repleta de personangens contraditórios.

8º A Educação de Eleanor, Gail Honeyman
A Educação de Eleanor ou no seu original “Eleanor Oliphant is Completely Fine” que faz muito mais sentido, é a história de alguém que não está “completely fine” como o título possa indicar. A personangem principal – Eleanor Oliphant, é o ponto alto do livro. Carismática e muito peculiar e que não aprendeu a lidar com os problemas que a vida lhe vai apresentando.
Contudo, e apsear dos tópicos díficeis tal como violação sexual e saúde mental, o livro consegue ser leve e muito divertido. Acabei a gostar muto mais do que estava à espera.

9º Deixa-te de Mentiras, Philippe Besson
Se tiver que escolher o melhor livro de 2024 – Deixa-te de Mentiras é com certeza a escolha entre os melhores livros de 2024. E, o filme não lhe fica atrás!
Deixa-te de Mentiras de Philippe Besson é sobre uma história de amor entre dois homens nos anos 80 do século passado. Uma história de um amor de juventude que talvez não parecesse mas que realmente era amor. Ao longo de cerca de quatro décadas é possível descobrir o que acontenceu com estas pessoas saídas de uma pequena vila no Oeste da França.
Uma narrativa emocionante, que com o passar das páginas fica ainda mais interessante e o final é arrebatador! A escrita faz lembrar a de Annie Ernaux da qual sou fã!
I just wanted to write to tell you that I have been happy during these months together, that I have never been so happy, and that I already know I will never be so happy again.

10º Outono, Ali Smith
Outono de Ali Smith é o relato de uma amizade inusitada entre Daniel e Elizabeth. Tendo lugar no período do referendo ao Brexit – aborda a cumplicidade, a diferença de idades entre os protagonistas e a maneira como estes vêm o mundo.
O primeiro livro que li da Ali Smith e este Inverno espero ler a seguinte obra desta tetralogia da autora – Inverno.

11º Os Anos, Annie Ernaux
Os Anos é a narração de mais de seis décadas de vida contados da perspectiva de Annie Ernaux sobre o mundo e o que foi a “actualidade”.
Este livro de Annie Ernaux é uma reflexão muito interessante sobre a sociedade e o futuro que se espelha em momentos incontornáveis como foram os protestos de Maio de 68 em França ou o 11 de Setembro de 2001 em Nova York. A escrita auto-biográfica de Annie Ernaux é sempre a mais bonita e já o ano passado um dos seus outros livros – O Acontecimento – tinha entrado para a lista dos livros favoritos de 2023.
to exist is to drive oneself dry
Mais frases podem ser encontradas nesta publicação no instagram.

12º Faca, Salman Rushdie
Faca ou The Knife de Salman Rushdie é, talvez, a tentativa do escritor entender o que ocorreu depois do ataque que sofreu em Chautauqua, Nova York a 12 de Agosto de 2022. É um relato intenso dos eventos passados naquele momento e do que se seguiu. Contém muita raiva e também muitas considerações sobre o que é a vida e a religião.
Escutado em formato de audiolivro, narrado pelo próprio Salman Rushdie, tornou a experiência ainda mais interessante pois consegue enfatizar as emoções na sua narração. Como o mesmo afirma no livro e também numa entrevista do New York Times ao ‘The Ezra Klein Show – Salman Rushdie Is Not Who You Think He Is‘ é uma forma de colocar os eventos para trás e seguir em frente.

13º Intermezzo, Sally Rooney
Intermezzo conta a história de Ivan e Peter – dois irmãos em momentos bastante diferentes da sua vida – após a morte do seu pai. É uma reflexão de relações – familiares, amorosas, amistostas – que não perfeitas e sobretudo os conflitos que podem surgir quando se tem que lidar com o luto.
Ivan é a personagem mais interessante de toda a narrativa e gostaria que, talvez, tivesse havido mais foco na sua personagem, na sua evolução e na maneira como lidou com as suas emoções.

14º Princípio de Karenina, Afonso Cruz
Princípio de Karenina é o primeiro livro de da colecção Geografias (e em que o terceiro volume – O que a Chama Iluminou – acabou de ser publicado) de Afonso Cruz. É a história de um pai que conta à sua filha a sua história – dele, dela, e daqueles que o rodeiam. Com toques de realismo mágico que nos transporta até à Cochinchina. A narrativa faz também uma grande reflexão sobre o que é estrangeiro e o quão rodeados de “estrangeiro” estamos.
É sobretudo uma história sobre a felicidade e a solidão. De mundos tão diferentes – Portugal e Cochinchina.

15º Perto de Casa, Michael Magee
Perto de Casa é a história de Sean, em Belfast, depois de regressar de Liverpool onde esteve a estudar durante o periodo universitário. É um retrato de algo que vi a acontecer, com outras pessoas, de perto no tempo em que vivi em Belfast e nos mesmo anos em que narrativa tem lugar. Um lugar de divisões, de incerteza, de crueldade e em que uma noite, após um incidente, se torna também um lugar de caos.
É uma reflexão do que é viver em Belfast, de como o periodo ‘The Troubles’ ainda tem um impacto muito grande na população e na cidade. E, porque vivi lá algum tempo, foi também mais facil criar uma maior ligação a toda a história – os locais mencionados, as peripécias, e até os nomes das personagens é algo tão próximo.

Houve alguns outros livros que poderia mencionar aqui, por serem bonitos, interessantes e terem deixado de alguma forma uma marca. Livros como:
- Tudo o que Sei sobre o Amor, Dolly Alderton
- Porque Deixei de Falar com Brancos sobre Raça, Reni Eddo-Lodge
- O Jogador, Fiódor Dostoiévski
- Mensagem, Fernando Pessoa
- Os Livros que Devoraram o Meu Pai, Afonso Cruz
- Contos Poveiros, Luís Costa
Contudo, e apesar de ficarem de fora, merecem uma menção aqui visto que merecem ser lidos.
Boas leituras e bom ano!

Ta-ta,
Nuno

